Caldos da Nega

Rio de Janeiro

A Nega se apaixonou por um alemão aos dezenove anos. Disse que queria porque queria se mudar para a Alemanha, que ia atrás do moço, amor da vida dela. Enquanto sonhava e fazia planos com a nova vida, todo mundo dizia: “Ele não gosta de você”, “O povo lá é preconceituoso, você vai sofrer muito”, “Olha lá, Nega, tu vai quebrar a cara”. Nenhum comentário agourento a fez desistir. “Passei seis meses na Alemanha, aprendi muito, viajei. Hoje, meu ex-namorado é meu melhor amigo”, conta Bárbara Cristina dos Santos, aos 36 anos, carioca do Rio Comprido. Persistente e pouco preocupada com a opinião alheia, Nega nunca deixa de fazer o que quer. Assim também foi com a barraca dos caldos. “Era um tal de dizerem que não ia dar certo. E olha eu aqui. Vem gente de longe provar a minha comida”. Tudo começou quando Bárbara terminou um casamento e precisava garantir o sustento das duas filhas. Primeiro, fez uma pesquisa na área. “Tinha muito bar por aqui e quase nada para comer. Quem bebe precisa de um caldinho, né? Fiz de ervilha, mocotó, e fui para a Rua do Bispo. Não veio ninguém. Botei tudo em copinhos e saí oferecendo nos bares. Quatro meses depois eu tinha duas barracas”. Nega é teimosa. E os caldos cheirosos que faz, hum, não há concorrência que derrube. “Desde os nove anos me arrisco nas panelas”, conta. Sempre que precisava ganhar uns trocados, corria para a cozinha. Na Alemanha, para sobreviver em Altenburg, servia salgadinhos e bolos em festas de brasileiros. “Saí até numa revista. Depois, me chamaram para fazer um trabalho como modelo”. É, o pessoal branquelo de lá descobriu que Nega é de parar o trânsito. Já foi rainha do bloco de rua em Copacabana. “Imagina quando eu tinha vinte anos!”. Aliás, falsa modéstia não é com ela. “Sempre que me dizem que no Rio Comprido não tem nada para fazer, eu digo ‘como não? Tem o caldo da Nega!’”. O caldo, não, os caldos: ervilha, mocotó, angu à baiana, feijão mexicano, sopa Leão Velloso, dobradinha, frango com quiabo, bobó de camarão, canjiquinha, vaca atolada, sopa de siri… “Hoje estou no melhor ponto do bairro, as crianças correm, tem mesinhas, cerveja gelada no bar ao lado. Ajudei muito a melhorar isso aqui”. E quer ajudar ainda mais. “Não sou política. Faço política. Brigo pela minha comunidade”, define Bárbara. Ela se engaja na luta por melhorias para o bairro e tem um sonho: o de criar o calçadão do Rio Comprido (alô, prefeito!). “Qualquer evento que a gente queira fazer, tem uma rua fechada. Este ano queríamos fazer uma festa junina, mas não tem lugar”, explica. Na pracinha, este ano, ela promoveu o baile Charme Soul Mais Rio Comprido. Mais uma vez, sob críticas: “Você é louca, vai ficar uma muvuca, não tem espaço…”. Ainda bem que Nega é teimosa.

Onde e Quando?

Praça Condessa Paulo de Frontin, Rio Comprido

Terça-feira a Sábado:
18:00 – 01:00

Contato

Insta: @caldodanega.oficial

Face:CaldoDaNega

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni