Churrasquinho do Família

Rio de Janeiro

Aos 41 anos, Carlos Antônio Thompson já levou três chifres, como se diz no popular. “Na última, tinha uma obra lá em casa que não acabava nunca. O pedreiro quebrou a mesma parede dez vezes, só para poder consertar de novo. Um dia cheguei mais cedo e até desmaiei com a cena. Dor de corno é um problema sério”. Outras tentativas de constituir família também malograram. Ou seja, não ganhou o apelido por levar uma vida conjugal exemplar, e sim porque, há 23 anos, na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Visconde de Inhaúma, no Centro, não passa quinze minutos sem cumprimentar alguém: “Opa, Família, tudo bem?”.Diz que começou a dar “boa tarde”, “bom trabalho” como forma de chamar a atenção. “Os magnatas de escritório passavam e nem me olhavam. Era horrível”. Nas datas comemorativas, “família, feliz dia dos pais”, nas sextas-feiras, “madame, bom descanso”, aos turistas, “beijo nas crianças”, aos motoristas dos ônibus em alta velocidade, longa saudação em voz alta, “amigo, bom trabaaaaalho!”.O vozeirão ajuda a ser ouvido. Família também é Dimi Thompson, cantor de samba. “Sou um grande intérprete”, anuncia, imodesto. Durante o trabalho, quando não canta faz piada – muitas vezes sobre si próprio. “Com este meu tamanho, de avental, pareço uma baiana. Outro dia uma mulher perguntou se eu tinha acarajé, vê se pode! Respondi: ‘Não, mas tenho um pãozinho de alho sensacional’”.

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni