Espetinho do Cowboy

Salvador

Vendedor, músico, dançarino e com muitas histórias pra contar, esse é Marcos: o Cowboy. Desde sua juventude já trabalhava com vendas. O padrasto era padeiro e a mãe ensinou todos os filhos, a partir dos 10 anos, a cozinhar, lavar e passar: “ela dizia que se não estivesse em vida que eu já saberia algo”. Ainda criança, ficou encantado com o filme O Menino da Porteira (1976), e ao ver o cantor Sergio Reis tocando berrante botou na cabeça que era aquilo que ele queria para si. Um ano depois, a tia que tinha uma pequena fazenda em Itabuna, ganhou um berrante e Marcos, ao visitá-la, viu o instrumento na estante da casa e em 30 minutos já estava tocando. A casa da tia virou ponto de parada constante para Marcos – o vizinho não gostava muito, pois achava que o jovem estava caçoando dele pelo simbolismo do chifre do boi (chamando-o de “corno”). Com 14 anos foi para Minas Gerais morar com o padrasto em uma fazenda, tornou-se peão e começou a gostar de música sertaneja: “eu ouvia muita música na rádio, Milionário e Zé Rico, Trio Parada Dura… Eles me influenciaram muito”. Voltou em 1990 por saudades da mãe, e começou a trabalhar numa cozinha árabe, onde aprendeu muito. Em 2002 passou a ser gerente em um quiosque no antigo shopping a céu aberto – Aeroclube Salvador – que funcionava como bar de temática country. Para atrair publico, Marcos tocava berrante e ditava versos de rodeios e trocadilhos sertanejos. O local proporcionava música ao vivo todos os finais de semana e, em um destes, apareceu uma banda que chamou muita atenção do gerente: “as músicas que eles tocavam, todas, eu já ouvia quando morava em Minas”. A banda era Paulo Raio, e nela ele permanece até hoje. “Isso já faz 12 anos” – ele lembra. No inicio passou a acompanhar apenas como fã, indo a feiras agropecuárias. Quando a banda se apresentou no Aeroclube, Marcos pediu ao cantor que quando tocasse a música do filme “Menino da Porteira” e que o chamasse para tocar o berrante. O músico adorou a proposta e passou a convida-lo com mais frequência. Marcos decidiu largar o emprego, onde ganhava um salário mínimo e meio, para ganhar meio salário trabalhando com a banda: “passei 3 meses comendo pão com banana, mas estava feliz”. Salvador, entretanto, não tinha ainda bandas do gênero sertanejo, e assim eles passaram a conquistar espaços em alguns bares e casas de shows. Em um deles, no interior da Bahia, a banda foi convidada a abrir o show do cantor Sergio Reis. Marcos aproveitou o momento para “tietar” o cantor em seu camarim e comentou sobre o berrante: “Eu sei tocar berrante”, e assim foi desafiado pelo cantor. Ao ver Marcos tocar, Sergio Reis o convidou a subir no palco e tocar o berrante durante o show. Ele sentiu-se realizado naquela noite. Daí em diante a banda passou a fazer mais shows, lotando algumas casas e bares noturnos: “antes fazíamos um show a cada 3 meses, e aí passamos a fazer um a cada semana”. Além do berrante, Marcos toca percussão com colheres e dança. Mas onde fica a história do espetinho? Por conta do acidente na boate Kiss, em Santa Maria, várias casas de show pelo Brasil tiveram seus dias contados, por não atender às normas de segurança estabelecidas pelo corpo de bombeiros. Em Salvador não foi diferente. Marcos tentou se manter por mais alguns anos somente com a renda da banda, mas não foi o suficiente. Como sempre gostou de cozinhar, pensou: “o pessoal já me chama de Cowboy, carne tem mesmo a ver com o que eu mexo, vou vender espetinho!”. Construiu um carrinho temático parecido com um boi, mergulhando ainda mais no mundo sertanejo. Nele, Marcos leva uma pequena caixa de som onde toca músicas sertanejas, mas carrega consigo o fiel berrante, que anuncia, com o seu som inconfundível, sua chegada na Praça da Boca do Rio. Marcos compra as carnes no próprio bairro, pois mora próximo à praça, e utiliza apenas dois cortes do boi – chã de dentro e cupim -, além de frango, calabresa e camarão. Para temperar, utiliza temperos semi prontos e adiciona um segredo que não revela. Também utiliza uma pasta de alho com manteiga que ele, de tempos em tempos, pincela no espetinho. Marcos está a apenas um ano com o carrinho, e já tem pretensão de crescer e inovar nos sabores, utilizando carne moída, asas de frango, carne de sertão e carne de sol com aipim: “não sou escravo do trabalho, gosto de fazer por amor”.

Onde e Quando?

Praça da Boca do Rio

Quinta-feira a Domingo:
18:00 – 23:00

Contato

Telefone: (71) 8746-6160

Fotos: Emerson Santos e Neto de Oliveira/ Texto: Emerson Santos