Pastel do Oswaldo

Rio de Janeiro

Pastelaria, não. Barraca de pastel. É o costume: pastel bom é de feira, vendido na rua, comido no banquinho, joelhos encostados no aço inox do balcão, molho de pimenta à mão. Se o sujeito de olho na frigideira e escumadeira tiver olhos puxados, será ainda mais clássico. No bairro da Glória, aos domingos, o mineiro Oswaldo Kina é um legítimo representante dessa tradição. Para completar, foi criado em São Paulo, onde o pastel de feira é coisa da antiga. Mudou de cidade há quase uma década, aconselhado pelos pais. Instalados no Rio desde 1990, Antonio e Aurora abriram caminho em terras fluminenses para o resto dos Kina: “A família toda veio atrás. O mercado carioca não estava tão saturado quanto o paulistano”, conta Oswaldo, que admite não ter ideia de quantos pasteleiros de sobrenome Kina estão hoje espalhados pelas feiras cariocas. “Talvez umas cinquenta barracas de parentes. Somos a maior família no ramo de pastéis no Rio, sem dúvida”, garante. Neto de imigrantes da Ilha de Okinawa, Oswaldo não é dos descendentes mais ortodoxos, pelo contrário. Fugiu para casar com Sônia, há 32 anos, porque os pais sequer cogitavam a união do filho com uma não-nipônica. No entanto, quando o assunto é pastel, não é nada maleável. “Só fazemos os quatro sabores tradicionais: carne, queijo, palmito e frango (com catupiry)”. Em São Paulo, diz, indignado, não há barraca com menos de dez ou quinze opções – carne seca, pizza, bauru, calabresa, brócolis, chocolate. “É um mal causado pela forte concorrência. É preciso inventar moda para atrair o freguês”, observa. Antes de se render às feiras livres, ele tentou ganhar dinheiro nas mais variadas atividades. Foi vendedor de cigarros, empresário de confecção, taxista, atacadista de batata, cebola e alho, distribuidor de frutas e legumes para restaurantes e hotéis, motorista de ônibus escolar… “Depois de quase falir, recomecei a vida no Rio, com o pastel. Encontrei o empreendimento certo, o mesmo que meus pais faziam desde 1973”. Daqui, pelo menos esta fatia da família Kina não sai tão cedo. “É melhor para trabalhar, para viver. Nossa vida melhorou muito desde que começamos na Glória. É uma feira abençoada para nós”, comemora Sônia: “E o carioca é bem mais simpático que o paulista, conversa
bastante, faz amizade”.

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni