Na Feira da Kantuta, também conhecida como Feira dos Bolivianos, há mais de 90 barracas de imigrantes que vendem comidas, artesanatos e outros produtos da Bolívia e do Peru. Entre elas, a de Dona Florencia e sua filha, Mirian, uma das mais movimentadas. Os clientes chegam atraídos pelo cheiro e não ligam de esperar para provar a salteña, pasteis de forno recheados de legumes com carne, frango ou porco. Dona Florencia chegou de Cochabamba há mais de 50 anos para trabalhar como costureira, e por aqui ficou — hoje, os 75 mil bolivianos de São Paulo formam a maior colônia de imigrantes da cidade. De lá, trouxe a filha, ainda com 4 anos, e a receita de salteña. A comida de rua mais popular da Bolívia emprestou o nome da Argentina: salteña designa o que é natural de Salta, cidade do país vizinho — a explicação talvez seja porque seu inventor fosse de fato um saltenho que vivia na Bolívia, no início do século 19. Mas, embora se pareçam com as empanadas argentinas, são mais suculentas, graças ao recheio caudaloso à base de legumes e caldo de mocotó. “Não mudei nada na receita”, garante Dona Florencia. “Meus patrícios dizem que ela é melhor que as da Bolívia!”