RIO DE JANEIRO

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Pastel do Oswaldo

Pastel do Oswaldo

Rio de Janeiro

Pastelaria, não. Barraca de pastel. É o costume: pastel bom é de feira, vendido na rua, comido no banquinho, joelhos encostados no aço inox do balcão, molho de pimenta à mão. Se o sujeito de olho na frigideira e escumadeira tiver olhos puxados, será ainda mais clássico. No bairro da Glória, aos domingos, o mineiro Oswaldo Kina é um legítimo representante dessa tradição. Para completar, foi criado em São Paulo, onde o pastel de feira é coisa da antiga. Mudou de cidade há quase uma década, aconselhado pelos pais. Instalados no Rio desde 1990, Antonio e Aurora abriram caminho em terras fluminenses para o resto dos Kina: “A família toda veio atrás. O mercado carioca não estava tão saturado quanto o paulistano”, conta Oswaldo, que admite não ter ideia de quantos pasteleiros de sobrenome Kina estão hoje espalhados pelas feiras cariocas. “Talvez umas cinquenta barracas de parentes. Somos a maior família no ramo de pastéis no Rio, sem dúvida”, garante. Neto de imigrantes da Ilha de Okinawa, Oswaldo não é dos descendentes mais ortodoxos, pelo contrário. Fugiu para casar com Sônia, há 32 anos, porque os pais sequer cogitavam a união do filho com uma não-nipônica. No entanto, quando o assunto é pastel, não é nada maleável. “Só fazemos os quatro sabores tradicionais: carne, queijo, palmito e frango (com catupiry)”. Em São Paulo, diz, indignado, não há barraca com menos de dez ou quinze opções – carne seca, pizza, bauru, calabresa, brócolis, chocolate. “É um mal causado pela forte concorrência. É preciso inventar moda para atrair o freguês”, observa. Antes de se render às feiras livres, ele tentou ganhar dinheiro nas mais variadas atividades. Foi vendedor de cigarros, empresário de confecção, taxista, atacadista de batata, cebola e alho, distribuidor de frutas e legumes para restaurantes e hotéis, motorista de ônibus escolar… “Depois de quase falir, recomecei a vida no Rio, com o pastel. Encontrei o empreendimento certo, o mesmo que meus pais faziam desde 1973”. Daqui, pelo menos esta fatia da família Kina não sai tão cedo. “É melhor para trabalhar, para viver. Nossa vida melhorou muito desde que começamos na Glória. É uma feira abençoada para nós”, comemora Sônia: “E o carioca é bem mais simpático que o paulista, conversa
bastante, faz amizade”.

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Milho do Seu Jorge

Milho do Seu Jorge

RIO DE JANEIRO

Seria justo que o carrinho na esquina das ruas do Catete e Corrêa Dutra carregasse a seguinte placa: “Só puxe conversa se tiver tempo de sobra”. Jorge não faz questão de ser enxutoquando começa a narrar uma de suas histórias. E são aventuras tão deliciosas que fica difícil seguir a rotina – esta, depois, parece totalmente desinteressante. A viagem de Jorge Gabriel de Melo Marçal de Albuquerque Torres começa no Nepal. “Vim para o Brasil com um aninho”. O pai era francês, integrante da Legião Estrangeira, e a mãe, pigmeia do Kalahari. “Ela tem quase 1,28m e ainda está viva, com 106 anos”, garante o octogenário. Reinaldo, o pai, teria vivido até os 120. “Quando nasci, ele já tinha mais de 60 e outros 22 filhos de casamentos anteriores”. No Brasil, a vida da família, rica, foi em Itaguaí, a setenta quilômetros do Rio. Lá, Jorge teria casado, aos quinze anos, com uma japonesinha de apenas 12, recém-chegada ao país, num matrimônio arranjado. “Um sequer falava a língua do outro”. A mulher engravidou três vezes, de trigêmeos, em três anos. “Somos uma família de mais de dois mil anos de existência, e que a cada século só nasce um da estirpe”. Ser “da estirpe dos Torres” significa “ser aplicado, estudioso, ter coragem”. E é assim que ele toca a vida e o carrinho de milho cozido há 23 anos. Enquanto mergulha a espiga em água salgada, conta que abandonou uma herança milionária quando decidiu abandonar a família: “Papai disse que, se eu saísse de casa, não seria mais filho dele”. Mas naquele tempo a vida era boa: como tenente da Aeronáutica, viajava para cima e para baixo. A derrocada veio quando foi alijado das Forças Armadas, por desobediência. “Então comprei o carrinho de milho. Na velhice não tem emprego para a gente”. Hoje, bate ponto no Catete. Se não estiver por lá, é porque está dando aulas de kung-fu. “Mas pode ser que eu esteja fora do país. No fim deste ano devo tocar uma obra na África”. É, Jorge gosta mesmo de viajar – e de contar histórias.

 Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Ceviche do Giancarlo

Ceviche do Giancarlo

Rio de Janeiro

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Churrasco do Grande

Churrasco do Grande

Rio de Janeiro

Ricardo, o Grande: com a alcunha digna de um rei, este carioca desfila toda a sua nobreza do Flamengo à Lapa, onde é o churrasqueiro mais assediado da área. A mesma desenvoltura com que faz amigos na rua é a que tem para preparar carnes à perfeição e acompanhamentos para lá de originais. Aprendeu a cozinhar observando tias e a avó de ascendência indígena. Ex- professor de patinação no gelo, já morou no Haiti e na Alemanha, e desde que se instalou nas ruas do Rio de Janeiro, descobriu seu lugar: “A rua ensina muita coisa, ensina a respeitar as pessoas, o mundo”. No seu reino e alhures, poucos fazem um churrasco tão saboroso e criativo, por isso é sempre convidado para eventos. Na grelha, faz de salmão e tambaqui a carnes nobres, de legumes e queijos a castanhas. E tudo o que prepara é incrementado. A sobrepaleta suína leva abacaxi, o frango vem ao mel e gergelim, a picanha é recheada com queijo coalho, os legumes são temperados com limão pepper, cominho, curry, molho inglês. Até o simples pãozinho de alho do Grande é diferente, feito com gorgonzola, e a farofa leva banana, maçã e queijo. Se depender da clientela, Grande nunca mais troca de profissão ou cidade.

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Insta:@churrasdogrande

Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Corntshaft da Louise

Corntshaft da Louise

Rio de Janeiro

Panos coloridos, roupas coloridas, comida colorida: tudo é alegre na barraca de Louise na feira gastronômica de imigrantes e refugiados em que serve seu Cornshaft, ensopado típica de Camarões. No Brasil há seis anos, para onde veio em busca de uma vida melhor – depois de ser rejeitada pela família do marido, que sofreu um AVC -, ela diz que, em matéria de gastronomia e alimentação, sente-se em casa por aqui. “Tudo o que preciso, que tinha na África, eu encontro”, diz. Mas trouxe de lá o axé com o qual cozinha. O cornshaft (em inglês, quer dizer “palha de milho”), ensopado de milho e feijões típico de Camarões e da Nigéria, ela prepara em casa: cozinha os feijões branco e vermelho com o milho branco, especiarias, dendê e muito alho e gengibre, faz os acompanhamentos de carne e frango caipira, bolinhos fritos de banana e legumes cozidos. O preparo é tal e qual se faz no Sudoeste de Camarões, de onde ela veio. E para onde, pelo jeito, não pretende voltar. “Quero ficar no Brasil”, diz.

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Telefone: (21) 99378-5773

Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Jollof da Lateefat

Jollof da Lateefat

Rio de Janeiro

Enquanto a Nigéria sofre nas mãos do Boko Haram, organização islâmica que massacra o país há dez anos, a cultura do país africano resiste no Brasil pelas mãos da simpática Lateefat, radicada no Rio desde 2015. Lateefa (pronuncia-se Latifa), refugiada da guerra civil, cozinha e vende em feiras gastronômicas uma comida alegre, colorida e saborosa. Os ingredientes e receitas mais populares na Nigéria são servidos acompanhados de um inevitável sorriso da cozinheira. Um PF típico de sua terra natal tem feijão fradinho, arroz Jollof, camarões, carne de vaca guisada e frita e banana da terra frita, com temperos como cebola, pimentões, gengibre em pó, curry, páprica, dendê, canela. Tudo lembra um pouco a culinária baiana, que tem forte influência africana. Fato é que sua comida e simpatia conquistaram muitos fãs no Brasil, que já a ajudaram em algumas situações, promovendo suas comidas nas redes sociais e contratando-a para eventos. Até o chá de bebê de João, o caçula de seus quatro filhos, foi realizado em parceria com amigos e instituições.

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Insta: @cozinhada.latifa

Telefone: (21) 98150-5137

Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Bolinho de Aipim da Baiana

Bolinho de Aipim da Baiana

Rio de Janeiro

Há mais de 40 anos que, em todos os dias de sol, dona Maria Helena percorre o trecho da praia de Ipanema entre os postos 8 e 9 levando seu farnel de salgados. Vende empada, pastel e sanduíches, mas foi com o bolinho de aipim recheado de carne seca, bacalhau e carne moída que ganhou fama. Até no programa de Ana Maria Braga essa baiana de Maragogipe foi parar, ensinando a receita do petisco que há décadas agrada a turma LGBT, principal frequentadora do pedaço que dá em frente à rua Farme de Amoedo. Por isso, a clientela fiel a apelidou de “Baiana da Farme”. Tudo é preparado em casa, na comunidade do Pavão-Pavãozinho, com a ajuda da família, sobretudo da sobrinha Paulinha. Seus quase 80 anos de idade definitivamente não combinam com a disposição e agilidade com que descasca aipim, faz a massa e cozinha os recheios. “Todo mundo diz, não sei se é verdade, que meu bolinho é muito gostoso”, diz, modesta. É claro que sim, dona Maria Helena. Prova disso é que, graças às vendas, o ofício a ajudou a comprar a casa onde vive.

Onde e Quando?

Praia de Ipanema, Posto 8

Todos os dias de sol, a partir das 13h até o sol se pôr

Contato

Insta: @baianadafarme

Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Kremas dos Haitianos

Kremas dos Haitianos

Rio de Janeiro

“As pessoas acham que o Haiti é só guerra e terremoto”, diz Bob, haitiano radicado no Brasil há duas décadas. Embora tenha sido um terremoto (o mais grave da história da ilha, em 2010, com cerca de 300 mil mortes) que o tenha trazido ao Rio com a família, depois de perder tudo no país caribenho, Bob se esforça (e consegue) para mostrar aos brasileiros um outro lado do país. Percussionista, faz shows de música e dança típicas com seu bloco, o “Terremoto Clandestino”, e vende nas ruas do Rio o drinque haitiano mais tradicional, o Kremas. À base de coco, cachaça, limão e leite condensado, a bebida é capaz de alegrar até os mais desenxabidos — se provar enquanto assiste ao show, é felicidade garantida. Da quebra da fruta até a venda das garrafinhas, tudo é feito com a ajuda de Junie, uma amiga haitiana a quem Bob chama carinhosamente de irmã. Juntos, sorridentes e simpáticos, vão as ruas munidos de seus Kremas e instrumentos. “A palavra triste não existe no meu vocabulário”, diz Bob.

Contato

Telefone: 96741-5907
E-mail: robertmontinard@gmail.com

Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Panzerotti da Rossela

Panzerotti da Rossela

Rio de Janeiro

Rossela nunca imaginou que seria feliz vendendo comida na rua quando se lançou nessa “aventura”, como diz. “Quando tive a ideia de fazer o carrinho de panzerotti eu pensava em botar alguém para fazer pra mim, mas reparei que gosto da rua e do contato com as pessoas”, conta. Gastrônoma, consultora empresarial e professora de culinária, ela admirava o Brasil desde criança. Ouvia música brasileira, lia Jorge Amado e imaginava como seriam os sabores “exóticos” da nossa culinária – dendê, coentro, leite de coco. Agarrou a primeira oportunidade profissional para trabalhar no Rio, em 2011, e por aqui ficou. Hoje, prepara em casa massa e recheios do pastel de rua típico da região onde nasceu, a Puglia, na Itália, e finaliza na rua. “Panza é barriga em italiano”, explica, referindo-se à palavra que deu origem ao nome da massa. Os pasteis, com recheios que levam muçarela, parmesão, orégano, salame, tomate e cogumelos, são de fato barrigudinhos. Devido ao processo artesanal, ela diz que só faria esse trabalho no Rio: “Demora, por isso não posso ter clientes estressados e com pressa. Além disso, é um jeito de conhecer pessoas”, diz.

Contato

Face: panzerotti.e.cia

Insta: @panzerottiecia

Telefone: (21) 988495097

Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Papas Rellenas da Nelly

Papas Rellenas da Nelly

Rio de Janeiro

Um dia, ainda criança, Nelly pensou em entrar para o extinto exército paramilitar das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Não imaginava que, no futuro, emigraria de seu país fugindo do cotidiano violento imposto pelas próprias FARC. Hoje, sete anos depois, ainda tenta esquecer aqueles tempos em que “vivia à sombra da morte 24 horas por dia” e tem como uma de suas principais aliadas a comida de rua. A colombiana oferece nas feiras cariocas as típicas papas rellenas, batatas recheadas de arroz, frango e ovo, muito populares nas ruas dos vizinhos Peru, Chile, Peru e, claro, Colômbia. Em casa, Nelly prepara tudo artesanalmente: amassa batatas cozidas, faz os recheios, monta e frita os bolinhos empanados numa massa de farinha e água. Faz também um ají (molho de pimenta) caseiro e uma guacamole para acompanhar. Depois, na barraca, aquece as papas rellenas na grelha. “Vendo comida com história, com passado”, diz, “eu passo a minha cultura através dela”.

Contato

Telefone: (21) 96722-2077
E-mail: corocoras6223@gmail.com

 Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Açaí da Vanessa

Açaí da Vanessa

Rio de Janeiro

Vanessa tem uma das vozes mais potentes da praia de Ipanema, e quando grita anunciando seu açaí, cantando parodias de funks que ela mesmo faz, é impossível não ouvir mesmo de longe. Por onde passa, gritando a plenos pulmões e dançando com energia contagiante, é ovacionada: “gostosa!”, “maravilhosa!” É como se cantar na praia, seu teatro particular, como ela define, fosse seu remédio. Afinal, quem canta seus males espanta. E Vanessa curou-se de uma depressão profunda depois de, por recomendação médica, passar a frequentar a praia. Sentada na areia, teve a ideia de vender esfihas e, mais tarde, açaí – com acompanhamentos mil, como leite ninho, leite condensado, paçoca, banana, granola, mel… e salada de fruta, “pra tu fingir que é fitness”, brinca com a clientela. O sucesso das paródias é tamanho que foi parar na internet, com a ajuda de dois DJs, que gravaram Vanessa em estúdio. “Virou o ‘funk do açaí’ e já tem mais de 5 milhões de acessos”, conta. Ludmilla, Anitta e Valeska que a aguardem.

Onde e Quando?

Praia de Ipanema

Todos os dias de sol

Contato

Insta:@vanessaesplendorosa
Face: com/VanessaSantosDos                                                                                        Telefone: (21) 99380-6110

Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Batata de Marechal

Batata de Marechal

Rio de Janeiro

Uma batata frita que já se tornou um verdadeiro patrimônio do subúrbio carioca. Foi em Marechal Hermes, primeiro bairro operário do Brasil — projetado e inaugurado no início do século 19 pelo presidente de mesmo nome — que Ademar instalou sua barraca há mais de 30 anos. Pertinho da estação de trem, oferecia hambúrguer, cachorro quente etc., mas deixou tudo de lado para vender só batatas fritas. A ideia de incrementar as porções com frango à passarinho, bacon e calabresa, e servir até 3 quilos em cada sacola (ele nunca coloca menos de 2,5 quilos!) fez tanto sucesso que hoje tem até uma pequena fábrica. Máquinas descascam, lavam e cortam o ingrediente. Ademar vende quase 1 tonelada de batatas diariamente para clientes fiéis — o recorde foi batido nas Olimpíadas de 2016, quando chegou a vender 1,4 mil quilos em um único dia. Se os números são impressionantes, o sabor do petisco é ainda mais, e há quem venha de fora da cidade e outros bairros do Rio só para provar. “O segredo é a qualidade da batata. A minha é de semente holandesa, bem seca”, revela. Nestes tempos em que a batata congelada estende cada vez mais seus domínios pelos restaurantes, Ademar resiste e cresce a cada dia.

Onde e Quando?

João Vicente, 1543 – Marechal Hermes

Todos os dias:
16:00 – 00:00

Contato

Face: batatademarechalhermesrj 

Fotos: Neto de Oliveira /Texto: Ines Garçoni

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Churrasquinho do Família

Churrasquinho do Família

Rio de Janeiro

Aos 41 anos, Carlos Antônio Thompson já levou três chifres, como se diz no popular. “Na última, tinha uma obra lá em casa que não acabava nunca. O pedreiro quebrou a mesma parede dez vezes, só para poder consertar de novo. Um dia cheguei mais cedo e até desmaiei com a cena. Dor de corno é um problema sério”. Outras tentativas de constituir família também malograram. Ou seja, não ganhou o apelido por levar uma vida conjugal exemplar, e sim porque, há 23 anos, na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Visconde de Inhaúma, no Centro, não passa quinze minutos sem cumprimentar alguém: “Opa, Família, tudo bem?”.Diz que começou a dar “boa tarde”, “bom trabalho” como forma de chamar a atenção. “Os magnatas de escritório passavam e nem me olhavam. Era horrível”. Nas datas comemorativas, “família, feliz dia dos pais”, nas sextas-feiras, “madame, bom descanso”, aos turistas, “beijo nas crianças”, aos motoristas dos ônibus em alta velocidade, longa saudação em voz alta, “amigo, bom trabaaaaalho!”.O vozeirão ajuda a ser ouvido. Família também é Dimi Thompson, cantor de samba. “Sou um grande intérprete”, anuncia, imodesto. Durante o trabalho, quando não canta faz piada – muitas vezes sobre si próprio. “Com este meu tamanho, de avental, pareço uma baiana. Outro dia uma mulher perguntou se eu tinha acarajé, vê se pode! Respondi: ‘Não, mas tenho um pãozinho de alho sensacional’”.

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Kafta do Chileno

Kafta do Chileno

Rio de Janeiro

“O meu avô se chamava Rolando e era tão criativo que deu o nome do meu pai de Segundo Rolando. Aí meu pai me batizou Rolando José. Quando meu filho nasceu, eu logo pensei: preciso sacanear alguém também, né?, e dei o nome dele de Rolando Maurício. Minha nora engravidou, e meu neto, graças a Deus, se chama… Lucas!”, conta, dando risada, o Chileno – apelido de Rolando José Flores Bezerra. Ele não tem só o nome engraçado. Chileno é tão bem-humorado e espirituoso que faz do ritual de comer uma “kafta imperial” em sua barraca, no Largo da Pechincha, pura diversão.Nascido em Viña del Mar há 58 anos, abandonou sua terra natal na época da sangrenta ditadura de Augusto Pinochet. “Eu estava a caminho do Canadá, mas fiz escala no Brasil e nunca mais saí daqui”, lembra. Há 36 anos no Rio, virou carioca. Nunca mais voltou ao Chile. “Não reconheceria mais ninguém. Converso com a minha irmã pelo telefone e ela sempre diz: ‘Rolando, sabe o fulano?’, eu digo ‘sim’, e ela diz ‘pois é, morreu’”, narra, às gargalhadas. “O que eu vou fazer lá?”Depois de vinte anos trabalhando como mordomo de famílias ricas, garçom e maître de restaurantes, quase sem tirar férias, decidiu ser dono do próprio negócio. “Para não ter um compromisso com patrão”. Chileno começou vendendo churrasquinho e kafta na rua. Quando ganhou a licença da Prefeitura para montar a barraca, há três anos, precisou mudar de cardápio. “Me deram autorização para vender sanduíches e salgados. Mas a minha kafta já era famosa, eu não podia mudar. Resolvi mexer no formato e acrescentar o pão. Ficou mais gostosa”.

Onde e Quando?

Tanque, Praça do Barro Vermelho

Sexta-feira a Domingo:
19:30 – 01:00

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Cocada da Kris e Evandro

Cocada da Kris e Evandro

Rio de Janeiro

Evandro Lima Dias era o melhor funcionário de uma empresa de segurança. Quando pediu demissão para arriscar tudo no negócio das cocadas de forno, foi difícil resistir ao apelo dos patrões. Na firma, disseram que as portas continuariam abertas se, por acaso, em seis meses ele pedisse para voltar. “Nunca mais voltei. Fiz a coisa certa”. Certíssima, Evandro. O Rio agradece. Hoje ele faz a cocada mais cremosa, cheirosa e saborosa da cidade, ao lado da mulher, Cristiane, que também abandonou a profissão de assistente social em prol do bem-estar geral dos cariocas.Vamos ao principal segredo dessa iguaria inventada pelo jovem casal –“inventada” sim, pois, embora a cocada de forno não seja novidade, sua receita é exclusiva: a massa leva pouco açúcar. “Percebemos que as pessoas acham as cocadas muito doces. Os clientes diziam: ‘Ah, vou guardar um pouco para amanhã’. Mas queríamos ver o povo devorando tudo na hora”, conta Evandro. Metade da quantidade de açúcar foi embora. São doces na medida certa e sem adoçantes, apenas coco, ovos, leite condensado, açúcar, tudo com ou sem outras frutas.Só na barraca do casal é possível provar cocada de forno de maracujá, chocolate, banana com canela, caju, abacaxi e, se o freguês der sorte, alguns sabores raros, como café. Outra ideia original de Cris e Evandro é servir a cocada na casca do coco, chamada de “quenga”, junto com uma pazinha, o que torna a degustação ainda mais charmosa.

Onde e Quando?

Quinta-feira: Feira livre da Rua Conde de Lages

Domingo: Feira livre da Glória, Rua Augusto Severo

Terça-Feira a Sábado:
07:30 – 14:00

Contato

Telefone: (21) 984626424

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Bolinho de bacalhau do Mazzaropi

Bolinho de bacalhau do Mazzaropi

Rio de Janeiro

Severino do Ramo Bezerra já foi uma espécie de caipira. Nunca tinha visto um túnel, desses que o Rio tem aos montes, quando chegou por aqui em 1969. Na cidade onde nasceu, no interior, não existia nada disso. “Eu queria voltar de qualquer jeito”, lembra. Mas insistiu. Arrumou um emprego num botequim em Laranjeiras, e os clientes deram o apelido de Mazzaropi ao jovem. Não pelo jeitão de interiorano, incorporado em tantos filmes por Amácio Mazzaropi (1912-1981), e sim pela semelhança com o ator: “Não sei se sou parecido com ele. O pessoal acha que sim”.Mazzaropi trabalhou por mais de vinte anos no mesmo boteco. Os patrões eram portugueses, e a eles deve boa parte do sucesso de seu bolinho de bacalhau, hoje vendido na feira de sábado, também em Laranjeiras. “Aumentei muito a quantidade de bacalhau”, conta. O resultado é um bolinho leve e macio, a despeito, inclusive, de ser um pouco maior que o tradicional.

Onde e Quando?

Feira livre da Rua General Glicério, Laranjeiras

Terça-Feira a Sábado:
09:00 – 14:00

Contato

Insta: mazzaropidobacalhau50

Telefone: (21) 983677458

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Picolé do Morais

Picolé do Morais

Rio de Janeiro

Quando o português Antônio Morais, camponês da Serra da Estrela, abriu as portas de seu armazém em Ipanema, havia menos de 100 anos que ali se pescavam baleias. Em 1936, o bonde ainda circulava pela Rua Visconde de Pirajá. Adriano, o filho mais velho de Antônio e Maria, tinha apenas quatro anos, mas conhece bem essa história.No início, o empreendimento do pai era uma espécie de vendinha, cujas prateleiras exibiam doces, frutas, compotas, vinhos. “Junto com os alimentos papai tinha uma pequena sorveteria. E a mamãe começou a fazer sorvete”, conta Adriano, que hoje empurra o carrinho de picolé Morais pelas ruas e praias do Leblon e Ipanema. Os sabores eram comuns, chocolate, flocos, creme, até que Dona Maria decidiu inovar. “Um dia ela acordou não sei se de bom ou mau humor e disse: ‘Não faço mais isso, agora só sorvete de frutas’”. Jabuticaba, abacate, tangerina, caju, jaca, abacaxi, banana, fruta para ninguém botar defeito. A novidade agradou e o lugar ganhou o nome de Sorveteria das Crianças.Adriano comprou a sorveteria do pai em 1955 e a manteve até 1980. Na Ipanema do Bar Veloso, do Posto Nove, do Pasquim, os Morais viram nascer a bossa nova, o surfe no Arpoador, a Banda, o frescobol, o biquíni fio dental. Depois de tantos anos, é natural que Adriano não passe um dia de trabalho sem reencontrar um velho cliente. “Diariamente vem alguém me dizer que se lembra do velho sorvete. E tem sempre aquele cara que diz: ‘Morro de saudades do teu picolé de coco queimado’. O problema é que nunca fiz picolé de coco queimado!”

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Caipirinha do Luizinho

Caipirinha do Luizinho

Rio de Janeiro

Em pé atrás da barraca, Luizinho ensina ao freguês que “o cravo é um instrumento interessante, pouco conhecido na nossa cultura. É lindo, uma verdadeira pintura!”. Sua empolgação desperta a curiosidade do sujeito, que pede uma caipirinha de vodca, limão e açúcar, em seguida emenda, estendendo a mão para pagar: “Cobra aqui o drink e um CD do cara que toca cravo”. O dono do “botequim” da Praça São Salvador, em Laranjeiras, se anima: “Excelente! Você vai adorar o som! É melhor gastar dinheiro com música do que com terapia”. Luizinho não precisa de um terapeuta. É feliz assim, trabalhando entre CDs, clientela interessada em boa música, amigos sambistas e garrafas de cachaça mineira.A vida como vendedor de rua começou quando Luiz Antonio Mandarino tinha um pouco mais de cabelos e andava indeciso sobre o que fazer da vida. Nos anos 90, levado pelo então sogro Eliomar Coelho, atual vereador do Rio, tornou-se responsável pelas caipirinhas em festas de campanha. “A turma começou a me chamar para outros eventos”, lembra. Entre eles, a roda de samba do Clube Lagoinha, em Santa Teresa, bairro onde nasceu, cresceu e mora.Com a presença de cantores famosos na roda nasceu a ideia de vender também os discos: “Eles deixavam seus CDs na minha barraca. Mas só vendo o que gosto”. Hoje, marca presença nas duas feirinhas de artesanato de Laranjeiras. Em ambas, Luizinho é quem esquenta o clima antes da roda de choro. Não só porque serve os drinks, mas também porque é responsável pelo “som ambiente”. “Meu negócio é samba e choro. Tenho prazer em dizer que sou amigo de Aldir Blanc, Carlos Malta, Zé da Velha, Silvério Pontes…”, conta.

Onde e Quando?

Praça São Salvador, Laranjeiras

Domingo:
09:00 – 16:00

Fotos: Marco Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Papito do Xina

Papito do Xina

Rio de Janeiro

Vera conversava de canto com a dona da carrocinha de cachorro quente em frente à PUC-Rio. O marido sacou o clima de fofoca e lançou, no melhor estilo carioquês: “Vocês tão aí só de papito, né?”. No momento em que pronunciou a frase, teve um insight: “Esse vai ser o nome do produto”. O novo pão recheado já existia, mas ainda não tinha um “nome chiclete”, diz ele, “porque o importante é o nome pegar, né?” O papito nasceu em 1998 com a pretensão de sero melhor pão recheado do Brasil. “Se a França tem o croissant, nós temos o papito, mais saboroso e com mais opções de recheio”.Xina é Wilson Moreira, um sujeito que já foi de tudo na vida: faxineiro, pedreiro, motorista, alfaiate. “Vivia em busca de algo sem saber o quê, até descobrir que queria ser músico”. Finalmente encontrou seu lugar, há 25 anos, na universidade da Gávea. “Eu precisava estar perto de pessoas pensantes. Parei aqui com um isopor cheio de cerveja”.Mas passava semanas sem vender nada. Pegava no violão para espantar a tristeza, e um dia foi ouvido pelo músico Maurício Baia. “Ele disse: ‘Ô, mais velho! Essa música é sua? Posso gravar?’”. E assim nasceu a parceria que lhe renderia quatro sucessos na voz de Baia. O “mais velho”, aliás, diz que tem 65 anos, mas ninguém acredita. “O contato com a galera jovem da PUC ajuda”.

Onde e Quando?

Rua Padre Leonel Franca, 251, Gávea

Segunda-feira a Sexta-feira:
14:00 – 22:30

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Caldos da Nega

Caldos da Nega

Rio de Janeiro

A Nega se apaixonou por um alemão aos dezenove anos. Disse que queria porque queria se mudar para a Alemanha, que ia atrás do moço, amor da vida dela. Enquanto sonhava e fazia planos com a nova vida, todo mundo dizia: “Ele não gosta de você”, “O povo lá é preconceituoso, você vai sofrer muito”, “Olha lá, Nega, tu vai quebrar a cara”. Nenhum comentário agourento a fez desistir. “Passei seis meses na Alemanha, aprendi muito, viajei. Hoje, meu ex-namorado é meu melhor amigo”, conta Bárbara Cristina dos Santos, aos 36 anos, carioca do Rio Comprido. Persistente e pouco preocupada com a opinião alheia, Nega nunca deixa de fazer o que quer. Assim também foi com a barraca dos caldos. “Era um tal de dizerem que não ia dar certo. E olha eu aqui. Vem gente de longe provar a minha comida”. Tudo começou quando Bárbara terminou um casamento e precisava garantir o sustento das duas filhas. Primeiro, fez uma pesquisa na área. “Tinha muito bar por aqui e quase nada para comer. Quem bebe precisa de um caldinho, né? Fiz de ervilha, mocotó, e fui para a Rua do Bispo. Não veio ninguém. Botei tudo em copinhos e saí oferecendo nos bares. Quatro meses depois eu tinha duas barracas”. Nega é teimosa. E os caldos cheirosos que faz, hum, não há concorrência que derrube. “Desde os nove anos me arrisco nas panelas”, conta. Sempre que precisava ganhar uns trocados, corria para a cozinha. Na Alemanha, para sobreviver em Altenburg, servia salgadinhos e bolos em festas de brasileiros. “Saí até numa revista. Depois, me chamaram para fazer um trabalho como modelo”. É, o pessoal branquelo de lá descobriu que Nega é de parar o trânsito. Já foi rainha do bloco de rua em Copacabana. “Imagina quando eu tinha vinte anos!”. Aliás, falsa modéstia não é com ela. “Sempre que me dizem que no Rio Comprido não tem nada para fazer, eu digo ‘como não? Tem o caldo da Nega!’”. O caldo, não, os caldos: ervilha, mocotó, angu à baiana, feijão mexicano, sopa Leão Velloso, dobradinha, frango com quiabo, bobó de camarão, canjiquinha, vaca atolada, sopa de siri… “Hoje estou no melhor ponto do bairro, as crianças correm, tem mesinhas, cerveja gelada no bar ao lado. Ajudei muito a melhorar isso aqui”. E quer ajudar ainda mais. “Não sou política. Faço política. Brigo pela minha comunidade”, define Bárbara. Ela se engaja na luta por melhorias para o bairro e tem um sonho: o de criar o calçadão do Rio Comprido (alô, prefeito!). “Qualquer evento que a gente queira fazer, tem uma rua fechada. Este ano queríamos fazer uma festa junina, mas não tem lugar”, explica. Na pracinha, este ano, ela promoveu o baile Charme Soul Mais Rio Comprido. Mais uma vez, sob críticas: “Você é louca, vai ficar uma muvuca, não tem espaço…”. Ainda bem que Nega é teimosa.

Onde e Quando?

Praça Condessa Paulo de Frontin, Rio Comprido

Terça-feira a Sábado:
18:00 – 01:00

Contato

Insta: @caldodanega.oficial

Face:CaldoDaNega

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Pão de queijo do Carlinhos

Pão de queijo do Carlinhos

Rio de Janeiro

Tem dias que a barraca do Carlinhos fica tão lotada que é preciso distribuir senha e pedir que o cliente espere cerca de quarenta minutos. Se a família é grande, pede logo uma dezena, todo mundo quer. “Minha menina nasceu comendo o pão de queijo recheado… né, filha? Como é o nome do tio?”, pergunta a mamãe. “Tio Carlinhos”, responde prontamente a criança.Antônio Carlos Vieira da Costa é famoso na área, está há dezoito anos em Bangu, Zona Oeste do Rio. Ele mesmo prepara as provisões para o pão de queijo recheado. A lista de sabores é extensa: são dezessete opções, e a mais pedida é a de frango com catupiry. Entre as pastas, a de cebola era uma das preferidas da galera de Ipanema, no início dos anos oitenta. “A gente estava no Posto Nove. Artistas, gente famosa frequentava nosso quiosque”.

Onde e Quando?

Praça Primeiro de Maio, Bangu

Sexta-Feira a Domingo:
18:00 – 00:00

Contato

Telefone: (21) 968216455

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Sanduíche do Uruguaio

Sanduíche do Uruguaio

Rio de Janeiro

O chef americano Anthony Bourdain esteve recentemente na barraca mais famosa da República de Ipanema, cuja capital é o Posto 9. “Ele se lembrava da churrasqueira”, conta Milton Gonzalez, o “Uruguaio”, uma celebridade daquela sareias. Quem prova da sua iguaria sempre volta. Justo, afinal, ele se esforça para fazer a comidinha mais gostosa da praia. A história do famoso “sanduíche do Uruguaio” começou há 30 anos, quando Milton saiu de Canelones, cidade a 60 quilômetros de Montevideo, para prepará-lo a poucos metros do mar carioca. O longo caminho cheio de intempéries teve final feliz, no qual o Uruguaio termina posando de cidadão do Rio: é flamenguista, rato de praia e bom de papo. Seu território virou ponto de encontro da esquerda, e houve um longo tempo em que a bandeira do Partido dos Trabalhadores esteve fincada ali também – até 2005, ano em que o caso mensalão desiludiu Milton. Ele se considera anarquista. Nos anos 60 e 70, era sindicalista na terra natal, foi perseguido, preso pela ditadura uruguaia (1973-1985) e condenado a oito anos de prisão, dos quais cumpriu dois anos e meio. Até hoje convive com sequelas da tortura. Exilado no Brasil, conheceu figuras importantes da esquerda latina, Lula, Eduardo Galeano, artistas, Chico, Gil, Caetano, e uma penca de quem ele nem se lembra mais. “O brasileiro é gente muito boa. O carioca então…”. Ele jura que quase não há desonestos na praia. “O povo só precisa para pagar na hora de ir embora e não conseguimos controlar 200, 300 pessoas atendidas. E é raro alguém dar o calote”. Pagam e saem felizes. O sanduíche leva um molho especial à base de chimichurri, tempero que faz com ingredientes trazidos do Uruguai. As carnes são maminha, alcatra, frango e “lingüiça de primeira”. Acompanhados de caipirinha ou cerveja gelada, trata-se do programa ipanemense por excelência. Mas o sucesso de Milton não seria tanto se não fosse o trabalho de Glória, com quem se casou ainda em Canelones. “É minha companheira. E uma grande revolucionária”, ele se derrete. Glória prepara os ingredientes em casa e os carrega para a praia, onde os sandubas são montados. Infelizmente, a tal churrasqueira da qual o chef-celebridade se lembrava, e onde Milton grelhava à moda uruguaia, foi proibida pela Prefeitura. Para a sorte dos Bourdains da vida, exceto pelo fim do aroma que invadia os narizes dos banhistas, quase nada mudou: o sanduíche continua delicioso e Ipanema, linda.

Onde e Quando?

Praia de Ipanema, Posto 9

Segunda-Feira a Domingo:
09:00 – 19:00

Contato

Face:Barraca do Uruguai

Insta:@barracadouruguay

Telefone: (21) 983633752

 

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Acarajé da Nega Teresa

Acarajé da Nega Teresa

Rio de Janeiro

Quando jogava handebol profissional, Nega Teresa era atacante. “Como sou até hoje. Sempre!”, diz a filha de Iansã, orixá de personalidade forte, mulher guerreira, rainha dos ventos e tempestades, a “dona” do acarajé. Nem a chuva a impede de armar o tabuleiro no bairro cujo nome homenageia outra Teresa, a Santa. Ali, sob a lona branca, em frente ao tabuleiro colorido, entre cuscuzes e acarajés, bolos de aipim, cocadas, flores da estação, ela se sente em casa. Certamente Iansã, que mora no rio Níger, na África, gosta do lugar: a Almirante Alexandrino, onde Nega está há mais de dez anos, já foi a rua do Aqueduto, caminho dos canos que abasteciam a cidade com as águas do Rio Carioca.A baiana diz que lê pensamentos: “Às vezes surpreendo o cliente, já sei o que ele vai pedir alguns segundos antes”. São anos, desde 1982, de sorrisos distribuídos na rua. Nascida em Amaralina, bairro de Salvador, passou a adolescência observando o trabalho da mãe e da tia nos seus tabuleiros: “Comida é tradição. Eu sei que meu trabalho ajuda a preservar os costumes do meu povo”.

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Salada de frutas do Val

Salada de frutas do Val

Rio de Janeiro

Valdemar Nascimento viu o mar pela primeira vez aos dezessete anos, em Ipanema. Minutos depois de ter sido apresentado à água, o adolescente recém-chegado de Aroeira, no interior da Paraíba, já estava se afogando. De nada adiantaram os conselhos do irmão mais velho, sentado na areia: “Não vá muito no fundo!”. Val foi salvo pelos surfistas. Tudo bem. Não guardou traumas. Anos depois, mergulha diariamente no mesmo lugar, agora nos intervalos do trabalho.Nos tempos de moleque, no semiárido nordestino, Val conhecia poucas frutas além das que nasciam no quintal de casa: caju, maracujá, pinha. O sustento vinha da terra, plantando e colhendo milho, arroz, feijão. “Minha vida era ir da roça para a escola. Meu pai me prendia, era um homem muito rígido”. O Rio trouxe a liberdade: “Aqui fico à vontade, ando como quero, a qualquer hora”.Val anda mesmo como quer: leva na cabeça um chapéu no melhor estilo Carmen Miranda. Trata-se de uma excelente estratégia de marketing: nem a superlotação da praia e o amontoado de guarda-sóis impedem que seja visto de longe.

Onde e Quando?

Praia de Ipanema

Segunda-feira a Domingo:
12:00 – 17:00

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Tacacá da Rose

Tacacá da Rose

Rio de Janeiro

Aos nove anos, a baianinha Roseane Trindade já saía pela Praia de Itapuã, em Salvador, vendendo sacolé. Queria ajudar a mãe, cozinheira e lavadeira das águas da Lagoa de Abaeté, a criar seis filhos. Mas a fome bateu à porta da casinha de sapê e o pai vendeu tudo para mudar-se com a família para o Rio. Aqui, Rose terminou os estudos enquanto trabalhava como babá, diarista e vendia bolo em porta de fábrica. “Quando minha mãe voltou para a nossa terra, entrei em depressão. Pedi a Deus para me dar um caminho e um dia acordei com a ideia de fazer acarajé. Fui para a Praia do Flamengo, há quase vinte anos, e nunca mais parei”, lembra. O mundo de Rose é grande, e ela ultrapassou os limites geográficos do Rio e da Bahia – hoje vende tacacá, comida típica paraense, na Ilha do Governador.Assim como combina o tucupi, a goma, as folhas de jambu e o camarão seco para preparar o tacacá, ela mistura as culturas baiana, amazônica, mineira e carioca na mesma panela. Já promoveu festivais de música e gastronomia no seu pedaço para homenagear Dorival Caymmi, divulgar o Pará, pôs grupos de samba, pagode, capoeira… “Quero fazer para o Vinicius de Moraes também. Meu irmão sempre pulava a cerca da casa dele lá em Itapuã para roubar manga. Posso dizer que o Vinicius ajudou a matar nossa fome”, brinca Rose.

Onde e Quando?

Estrada do Galeão, Ilha do Governador

Segunda-feira a Sábado:
16:00 – 23:00

Contato

Telefone: (21) 982899873

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Rosca do Erisvaldo

Rosca do Erisvaldo

Rio de Janeiro

O carisma de Erisvaldo é irresistível. A caminhada diária que faz pelo bairro do Catete e adjacências, aos gritos de “Da rooooooooosca!”, já lhe rendeu entrevistas em diversos programas de TV, vídeos de fãs no Youtube, versões em funk e forró de seus bordões e até uma biografia. Sempre considerado exemplo de empreendedorismo, simpatia e persistência, Erisvaldo Corrêa dos Santos é tudo isso, mas é sobretudo um comediante. E dos mais inteligentes, rápidos e astutos. Depois de vender coxinha, pipoca, picolé, água de coco nas ruas do Crato, no Ceará, onde nasceu, e do Rio, cidade para a qual se mudou em 2005, começou a ‘queimar rosca’ em casa. “Queria fazer alguma coisa que divertisse o público. Eu gosto mesmo é de ver as pessoas rirem”. Usou os conhecimentos adquiridos como funcionário de uma padaria e criou a receita de um doce de nome sugestivo, prato feito para piadas de duplo sentido. “Minha rosca está sempre pegando fogo!”, brinca. O quitute é levemente doce, “porque leva pouco açúcar na massa, uso mais como cobertura, com canela”, explica. Por isso, nada enjoativo. Erisvaldo carrega 150 roscas sobre a cabeça, dentro de uma caixa, em perfeito equilíbrio. E ainda sobra fôlego para bradar, em voz afinada: “Olha ele aí! Quem quer comer minha rosca?”. Quando compra, o cliente leva a guloseima e, de lambuja, boas risadas. “Vai comer minha rosca agora, é? Na frente de todo mundo?”. Não há quem resista. Quem o vê cercado de gente não imagina que Erisvaldo chegou ao Rio “com a roupa do corpo, para ficar de favor na casa de um conhecido”. A idéia de fabricar e vender roscas veio quando a necessidade falou mais alto. “Eu estava na rua da amargura, com vinte reais no bolso, sozinho, pedindo a Deus que me desse uma luz”, conta. Hoje, as abordagens não o deixam em paz. O transeunte passa e pergunta: “Ô da Rosca, olha a calça daquele ali, apertadinha. É coisa de bicha, né?”, ao que Erisvaldo prontamente responde: “Rapaz, deixa o menino, o mundo é gay!”. Mais adiante, outro freguês reclama do preço. “É que a minha rosca está mais larga!”, arremata o vendedor.

Onde e Quando?

Saída do Metrô Catete

Segunda-feira a Sábado:

10:00 -14:00 e das 18:00 – 20:00

Aos domingos, na feira da Glória.

Fora desses horários ele circula pelos dois bairros.

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Sushi do Arnaldo

Sushi do Arnaldo

Rio de Janeiro

A destreza com que Tarcísio prepara uma massa de harumaki é impressionante: depois de girá-la em círculos no ar, sem soltar da mão direita, o sushiman deita delicadamente pedaços da massa sobre a chapa redonda de ferro quente. Com uma pinça, retira rapidamente as folhas que serão recheadas com camarão e catupiry, numa versão brasileira do pastel chinês mais conhecido por aqui como rolinho primavera. Seria uma cena pouco inusitada se Tarcísio não estivesse numa feira livre, entre barracas de bananas, laranjas, hortaliças, às dez da manhã.A ideia de vender harumakis, sushis, sashimis e outras iguarias da culinária oriental em plena rua é do carioca Arnaldo Barcellos, peixeiro há trinta anos. Ele ainda não trocou o “camarão, badejo, corvina!” pelo “olha o sushi fresquinho, freguesa!”, mas o sucesso da empreitada já é tanto que admite: “Não tem mais volta”. Sabe que deu um tiro certeiro.“Volta e meia alguém me perguntava se não era possível vender o peixe já cortado como sashimi. Um dia resolvi contratar um sushiman. Foi um sucesso”, conta. Aos poucos, Arnaldo expandiu a variedade de ofertas: hoje vende sushis e sashimis de salmão, polvo, atum e peixe branco, hot philadelphia e toda a sorte de “makis” – salmaomaki, kapamaki, tekamaki.

Onde e Quando?

Jacarepaguá / Grajaú / Ilha do Governador

Terça – Feira livre da Rua Borba do Mato com Rua Juiz de Fora – Grajaú

Quarta – Feira da Av Geremário Dantas, Praça da Lona Cultural – Jacarepaguá.

Sexta – Av Júlio Furtado, em frente ao número 178 – Grajaú

Sábado – Feira da Praça da Ribeira – Ilha do Governador.

Horário:

06:00 – 14:00

Contato

Face: Sushi Barcellos

Insta: @sushi.barcellos

Telefone: (21) 964446336

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Esfiha do Marquinhos

Esfiha do Marquinhos

Rio de Janeiro

Não, não é uma miragem. Aquele de túnica e turbante em cima de um camelo de dois metros de altura puxado por dois garotos na areia, ladeado por duas mulatas-odaliscas, em pleno sol do meio-dia, é o popular Bin Laden, Sadam, Khadafi, Árabe do Pepê ou somente Marquinhos. A música ambiente está de acordo com a temática do conjunto em trajes folclóricos. Não fosse o mar da Praia do Pepê, você teria a certeza de estar em pleno Saara, sofrendo algum tipo de delírio. Mas não, trata-se de Marco Antonio Maciel, o sujeito mais exibido de toda a Barra da Tijuca e arredores, vendedor da melhor esfiha da praia.Ele está há 30 anos no ramo e, no verão, vende mais de mil salgados por dia. O pai foi cozinheiro e dono de restaurante. Nosso árabe foi criado entre panelas e desde cedo aprendeu a gostar delas. Depois de trabalhar como DJ em boates do Rio, cansou da vida noturna. “Comecei a ficar velho demais para isso e ganhava muito pouco”, conta.

Onde e Quando?

Avenida do Pepê, 1312, Barra da Tijuca

Sábado e Domingo:
11:00 – 16:00

Contato

Telefoen: (21) 985194618

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Pipoca do Nelsinho

Pipoca do Nelsinho

Rio de Janeiro

O agente de uma gravadora chegou a perguntar se Nelsinho toparia se lançar um disco cantando de saia, lembra o dono do Disk-Pipoka, carrinho estacionado há dezesseis anos na Cinelândia, centro do Rio. Antonio Nelson Gonçalves tinha acabado de gravar o disco Vou acontecer, com canções de duplo sentido, mas teve um surto de lucidez: “Ouvi um dia pela manhã, durante o café, e pensei: ‘Que porcaria, como é que fiz isso?’”.O sonho de ser músico o levou a sair da cidade cearense de Ipueiras para Rio de Janeiro, mas o sucesso só chegou quando desistiu da carreira. Criou o Disk-Pipoka: “Tive a ideia de entregar nos escritórios. Deixei 12 mil panfletos nas portarias”. As 120 músicas compostas não saíram mais da gaveta, exceto uma: “Pipoca na terra, pipoca no ar / eu quero ver pipoca, pipoca pipocar / Na praia, no cinema, no parque de diversão / até quando estamos juntos em frente à televisão / Comendo pipoca a gente nem vê / o que fazem de novo pro povo sofrer”.

Onde e Quando?

Avenida Rio Branco, 257

Segunda-feira a Sexta-feira:
15:00 – 22:00

Contato

Insta: @diskpipokadonelsinhorj

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Hambúrguer de Valéira e Vinícios

Hambúrguer de Valéria e Vinícios

Rio de Janeiro

O casal estava endividado até o último fio de cabelo quando resolveu apostar todas as fichas − ou melhor, duzentos reais emprestados − numa caixa de hambúrguer. “A gente vendia cachorro-quente e o negócio não ia para frente. Resolvemos arriscar. Investimos em sanduíches idênticos aos das redes de fast-food, mas totalmente diferentes dos nossos vizinhos”, conta Valéria Moraes, de 23 anos. No primeiro dia do novo cardápio, ela telefonou para o namorado: “Arruma mais dinheiro aí e traz outra caixa! Acabou tudo em uma hora”. Nascia naquela noite, em agosto de 2011, o Burger Lapa, hoje uma das barracas mais concorridas do bairro boêmio.A clientela tamanha que foi preciso instalar um painel eletrônico de senhas para evitar tumultos. O casal adotou um sistema de atendimento de lanchonete. “O cliente compra a ficha no caixa, pega a comanda e aguarda ser chamado. Dentro, há um método de preparo que garante qualidade e rapidez”, explica Vinícius Henrique Alves, de 26 anos. Cardápio, comandas, camisetas e uma plaqueta têm a logomarca da “lanchonete”, mas a freguesia chama de “McLapa”. O carro-chefe diz tudo sobre o apelido: quem não sabe que o Burger Especial leva dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e pão com gergelim? Há quem diga que a versão de rua do sanduíche mais famoso do mundo é melhor que a original.

Onde e Quando?

Avenida Mem de Sá, 32, Lapa

Quarta-feira a Domingo:
19:00 – 04:30

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Quibe de soja do Ari

Quibe de soja do Ari

Rio de Janeiro

“Eu vivi a história. Participo dela ativamente desde o suicídio de Getúlio Vargas”, calcula Ari Gonçalves, de 76 anos, nascido em Campos (RJ), “mas carioca de coração desde os quinze, quando me mudei para o Rio”. Enquanto serve um quibe de soja recheado na Praia do Pepê, na Barra da Tijuca, ele narra os feitos que o levaram a passar nove dias no presídio da Ilha Grande. Ari faz questão de frisar: “Eu não era subversivo. Era brizolista”, diz, ao mesmo tempo em que dá o toque final em sua obra de arte, depositando uma folha de hortelã na sua escultura.Marcada por momentos áridos, a trajetória de Seu Ari contrasta com a textura macia de seu quibe e os seus modos delicados de falar e trabalhar. Entre os mais pedidos, o de cebola frita é campeão, seguido dos de polenguinho e de berinjela. Os recheios verdes variam de acordo com o que ele encontra no mercado: agrião, rúcula, brócolis, espinafre, folhas de mostarda… Antes de lambuzar os dedos, é bonito ver como Seu Ari capricha ao servir. Enrola o quibe numa folha de pão árabe para facilitar a degustação; depois, abre-o com uma faca e, no meio, coloca outros ingredientes. Se alguém pede “completo”, ele pinça pimenta, hortelã, tomate verde, alho poró, alho frito com castanhas, molho de alho, shoyu e azeite.

Onde e Quando?

Avenida do Pepê, 1312, Barra da Tijuca

Sábado e Domingo:
12:00 – 17:00

Fotos: Marcos PInto/ Texto: Ines Garçoni

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Cachorro quente do Oliveira

Cachorro quente do Oliveira

Rio de Janeiro

Oliveira Ferreira da Silva jura ter sido o pioneiro na utilização do milho, da ervilha e da batata palha no cachorro quente. Esta última, garante o homem-sobrenome, teria sido invenção sua, nos anos oitenta: “Eu fazia sucesso com aquela batata chips quebrada em cima da salsicha e toda a concorrência imitou. Para dar conta da demanda, a fábrica criou a versão palha”. A credibilidade de Oliveira na cidade leva qualquer um a crer que a história seja verdade. No bairro do Humaitá, Zona Sul do Rio, está desde 1995, mas a vida como vendedor de cachorro quente na rua começou dez anos antes, na Tijuca.O vendedor do cachorro quente mais saboroso do Rio começou a ganhar fama nos tempos em que mantinha um boteco em Olaria, há quase trinta anos. “Tinha tanta gente na rua em frente que os ônibus não conseguiam passar. Viramos notícia de jornal”, conta. Quando a frequência do botequim diminuiu, apostou no cachorro quente: “Percebi uma nova oportunidade de mercado em 1985. Foi a grande sacada da minha vida”.

Onde e Quando?

Rua Humaitá, Humaitá , 110

Contato

Telefone: (21) 99448976

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Empada do Paulinho

Empada do Paulinho

Rio de Janeiro

No primeiro dia em que botou o carrinho de empada na rua, conta Paulinho, um sujeito veio direto das “profundezas” para fazer com que ele desistisse: “Era um homem ‘mandado’, tenho certeza. A primeira empada que vendi foi para ele, de bacalhau. O cara mordeu e jogou fora, gritando que não prestava”. A cena aconteceu na Avenida Brasil, perto de Guadalupe. Hoje, mais de dez anos depois, Paulo Roberto Teixeira, de 56 anos, está na principal rua do bairro e o tempo de espera por uma empadinha pode chegar a meia hora.A fila começa logo que o vendedor estaciona sua bicicleta na Marcos de Macedo. Antes que o forno a lenha comece a funcionar já tem gente com dinheiro na mão dizendo “separa três de camarão para mim”. E olha que no Rio não é fácil ser bem-sucedido no vasto mundo das empadas. O consumidor é experiente, afinal o salgado é um clássico da gastronomia popular carioca. De massa leve e recheios saborosos, a empada Show tem o tamanho ideal, suficiente para, no máximo, quatro mordidas.

Onde e Quando?

Rua Marcos de Macedo, Guadalupe

Quinta-feira a Domingo:
18:00 – 00:00

Contato

Telefone: (21) 993717055

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Angu da Lucinha

Angu da Lucinha

Rio de Janeiro

Quando desce a escadaria do sobrado centenário onde mora para montar sua barraca, Lucinha leva mais que panelas, conchas e outros apetrechos necessários à venda. Carrega a história, os saberes e a identidade de seus antepassados, da bisavó escrava, e as memórias de um Rio que luta para não vê-las apagadas. Na Pedra do Sal, perto de onde funcionou o maior mercado de escravos da cidade, Marilucia Luzia une passado e presente ao fazer o que chama de “comida de resistência”.Além de vender os caldos, Lucinha atua na Associação de Remanescentes do Quilombo da Pedra do Sal. “Queremos ocupar e fazer dessa região uma comunidade negra”. A parte que lhe cabe está ocupada com panelões cheios até a tampa de caldos deliciosos. Lucinha aprendeu a cozinhar ainda menina, com as mulheres da família, mãe, tias, avó.

Onde e Quando?

Rua São Francisco da Prainha, 51

Segunda-feira:
18:30 – 00:00

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Coco do Luciano

Coco do Luciano

Rio de Janeiro

Furar um coco é fácil. Complicado é raspar as beiradas até que ele fique parecendo o coco do Zé Carioca. Deixar o fruto com aspecto lúdico é só um dos detalhes do trabalho de Luciano dos Santos, há 21 anos na Lagoa Rodrigo de Freitas. O show começa quando o freguês termina de beber a água e pede a ele para rachar o coco ao meio. Mais uma manobra de desenho animado: zás, trás, tchum!, e aí está o coco aberto com a “laminha” branca toda descolada da base e fatiada, pronta para ser consumida com um palito de madeira. Na Lagoa, Ipanema e adjacências, talvez por todo o Rio, só Luciano faz isso.Ele sabe o tipo de coco que cada cliente gosta. E escolhe de acordo com a preferência. “Sou um especialista. É só eu olhar para o coco que já vejo ele por dentro. A quantidade de carne que você pedir eu dou. É a prática”, explica. Perfeccionista, convenceu o fornecedor de que precisaria de mais tempo que os outros vendedores para escolher os seus. Luciano passa uma hora em cima do caminhão escolhendo os frutos. “Preciso tratar bem minha clientela. Muito marmanjo aí bebeu da minha água de coco na barriga da mãe”.

Onde e Quando?

Avenida Borges de Medeiros, Lagoa

Segunda-feira a Sexta-feira:
07:00 – 14:00

Contato

Face:com/barracadolucianolagoa/

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Yakisoba do Sr. Miagui

Yakisoba do Sr. Miagui

Rio de Janeiro

Quando desembarcou no Brasil pela primeira vez, a serviço de uma indústria naval japonesa, Watanabesan não sabia patavina de português. Aprendeu nosso idioma graças aos amigos cariocas, mas quase trinta anos depois o sotaque carregado ainda resiste. Nada que atrapalhe os negócios. À frente do carrinho de yakisoba, o japonês risonho e amável é muito comunicativo, pura simpatia. Prefere ser chamado pelo nome, mas ri do apelido de Sr. Miagui, referência ao personagem do filme Karatê Kid, com quem não guarda qualquer semelhança. “Isso é coisa de quem não consegue pronunciar meu nome. Eu falo uma, duas vezes. Se o cara não entende, eu digo: Sr. Miagui”.Nascido em Tóquio, Watanabe hoje vive em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. No carrinho estacionado no Rio da Prata, há cinco anos impressiona pela destreza com que manobra os alimentos sobre a chapa quente. Aprendeu a receita “vendo os outros fazerem desde pequenininho”: massa, repolho, carne ou frango e uma calda à base de molho inglês – gengibre em conserva e algas marinhas são opcionais. No Japão, yakisoba é a comida de rua mais popular. “Yaki é assar, grelhar, e soba é macarrão”.

Onde e Quando?

Rua Aricuri, Campo Grande, 1390

23081-332

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Hareburguer do Raphael

Hareburguer do Raphael

Rio de Janeiro

Pode não parecer, mas o “hareburger” de Raphael Marques é “a conjunção do universo inteiro. É a representação ou a própria existência material, numa escala menor, do que há de melhor nas galáxias mais distantes”. O menino nascido e criado no Leme desenvolveu uma linguagem própria para falar de seu invento, afinal o hambúrguer de soja que vende na praia não é coisa deste mundo. “É muito difícil transmitir a totalidade existencial do hareburger numa linguagem terráquea”.Seu charme de vendedor vem dessa conversa aparentemente sem sentido, mas o segredo de seu sucesso está no “hareburger”. Nas areias de Ipanema, muitos vegetarianos e outros curiosos já lamberam beiços com o sanduíche sem carne mais criativo de todo o universo intergaláctico da Zona Sul carioca. Hambúrguer de soja no pão com gergelim, queijo cheddar “alucinante, para ajudar na transferência dos mundos internos em circunstâncias giratórias”, tomate “psicodélico”, alface “esotérico” e molho de mostarda “transcendental” caseira com ervas finas.

Onde e Quando?

Praia de Ipanema

Todos os dias:
11:00 – 17:00

Contato

Insta: @hareburger

Telefone: (21) 985888294

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Caipirinha do Curinga

Caipirinha do Curinga

Rio de Janeiro

O balcão de Récion Gama Filho tem pouco mais de um metro de largura e está posicionado na calçada da Rua Joaquim Silva, próximo aos Arcos da Lapa. Vestido de curinga, com chapéu e camiseta decorada, ele faz malabarismos com a coqueteleira improvisada. Enquanto isso, conversa, canta, conversa, dá risada, conversa, faz caipirinha. É tão agitado que é difícil não ser notado. E, depois de provar um de seus drinks, é impossível esquecê-lo.É tido como um dos pioneiros da caipirinha na Lapa. “Estou aqui há dez anos. Sou respeitado por isso”, observa. Ao redor do Rei do Limão, a clientela espera drinks refrescantes e deliciosos. A “caipirinha do curinga”, carro-chefe, mistura limão e maracujá: “Aprendi sozinho, vendo barmen em restaurantes e botequins”.

Onde e Quando?

Rua Joaquim Silva, Lapa

Sexta-feira a Sábado:
22:00 – 06:00

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Tapioca do Arnaldo

Tapioca do Arnaldo

Rio de Janeiro

Arnaldo Ferreira de Melo, como todo nordestino pobre, do interior, foi criado na base da tapioca. Mas em Santa Quitéria, cidade de quase 50 mil habitantes no semiárido cearense, o menino, caçula de seis irmãos, comia a danada recheada de vento. “Era difícil ver coco lá na região, e não é costume botar queijo de coalho”, conta. Calabresa, como as que ele hoje vende nas ruas do Flamengo, nem pensar. “Carne era só no fim de semana. Nos outros dias, tome arroz com feijão e, de manhã, tapioca”. A mandioca era plantada pela família e a goma saía da casa de farinha. “Hoje o pessoal do interior não quer mais tapioca. Em compensação, faz bastante sucesso na cidade grande”, observa.Arnaldo tinha dezoito anos quando chegou ao Rio, em 1994, e se impressionou com a quantidade de fãs da “bichinha”. “Na época, eu estava doente e não podia trabalhar de carteira assinada, por isso fui para a rua fazer um dinheirinho”. Veio do Nordeste para curar uma hepatite. O tratamento o impedia de trabalhar já que as consultas médicas eram frequentes, e o jeito foi se engajar num negócio de horário flexível. “Quando me curei, já tinha minha freguesia. Desde então estou aqui, há quinze anos”.

Onde e Quando?

Botafogo e Flamengo

Segunda-feira a Sexta-feira:
19:00 – 03:00

Contato

Telefone: (21) 99184-6263

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Salgado da Família Marques

Salgado da Família Marques

Rio de Janeiro

Quando era dono de uma birosca no interior do Ceará, Edilson Marques sabia bem como atrair clientela. Espalhava sujeira pelo chão do bar: “Guardanapo, cachaça, tudo para dar a impressão de que o movimento estava intenso”, conta. Assim que completou 18 anos, bateu asas de lá. Em busca de um bom emprego, veio para o Rio de Janeiro, depois Brasília, São Paulo, Ceará de novo e, finalmente, Rio de vez. Trabalhou como servente, pedreiro e jardineiro, mas foi como ajudante de cozinha que aprendeu noções de culinária. Ganhou coragem e foi vender seus próprios salgados nas ruas. Na Lapa há 11 anos, Edilson hoje comanda a barraca na charmosa Rua do Lavradio. E como filho de peixe peixinhos são, Magno, de 22 anos, e Maicon, de 21, herdaram o talento para o comércio e se tornaram figuras fundamentais na barraca.Os pedidos não param, mas Magno controla tudo e todos naturalmente e com delicadeza. “Eu amo fazer isso aqui. Gosto muito de lidar com o público”. Quando ele não está à frente da barraca, Maicon assume. Tímido, ele fala menos que o irmão, mas, segundo o pai, vende mais. “Está sempre concentrado, enquanto o Magno é mais alegre e simpático. Cada um tem sua característica e importância aqui”, resume Edilson.

Onde e Quando?

Rua do Lavradio,172, Lapa

Segunda-feira a Sábado:
16:00 – 00:00

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Peixe frito de Deraldo e Vânia

Peixe frito de Deraldo e Vânia

Rio de Janeiro

A paquera entre Deraldo e Vânia Cajaíba rolava diariamente na fila do ônibus, na Praça Mauá, à noite, quando ambos voltavam do trabalho. Era piscadela daqui, sorrisinho dali, até que Deraldo tomou coragem e puxou assunto. Conversaram, se beijaram e, num acontecimento raríssimo, foram morar juntos três dias depois – isso mesmo: três dias depois. Veio então o casamento profissional, quando Deraldo, que já tinha sido ajudante de cozinha, teve a brilhante ideia de abrir uma barraca na praça principal da Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio.A história do peixe frito começou em 1992. “Ela era vendedora de loja e eu, segurança. Sobrava pouco dinheiro no fim do mês. Um dia, fomos comer um peixe em Sepetiba e veio a sacada de fazer o mesmo para complementar o salário”, lembra Deraldo. Quando deram por si, o sucesso já era tamanho que foi preciso abandonar os empregos. Vânia, até então, não sabia nem fritar um ovo, “nunca tinha limpado um peixe na vida”, mas aprendeu a cozinhar com o marido e hoje comanda sozinha as panelas do quiosque. Em alguns momentos, ela parece ter dez braços. Trabalha incessantemente. E não perde o bom humor. “Eu fico cansada, mas gosto disso aqui”.

Onde e Quando?

Praça principal de Vila Kennedy, Zona Oeste

Sexta-feira a Domingo:
18:00 – 00:00

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Carne de sol com aipim do Seu Batista

Carne de sol com aipim do Seu Batista

Rio de Janeiro

João Batista da Silva, 62 anos, já comeu calango assado para matar a fome, quase morreu numa enchente, começou a trabalhar na roça aos dez anos, vendeu bandejas de ovos na janela de casa, aprendeu sozinho a fotografar, montou um estúdio e foi parar no Haiti. É, a vida de Seu Batista dá um livro − e o final é feliz. No meio da história, enriqueceu no Rio de Janeiro, onde chegou aos 30 anos direto de Jaboatão dos Guararapes (PE), sem dinheiro, sem eira nem beira, e perdeu tudo. A reviravolta veio há 12 anos, quando recomeçou a vida vendendo milho verde na porta de casa, em Olaria, bairro da Zona Norte do Rio. Hoje, no Largo das Cinco Bocas, sua barraca vende dezenas de panelões dos mais variados tipos de comida. O movimento não para. E a carne de sol com aipim cozido é o final feliz de qualquer noitada.Desembarcou na rodoviária há 32 anos. “Na época, vir para o Rio era como ir para a Europa”, conta. Seu Batista não conhecia ninguém na cidade. Além do farnel, “uma mala de nordestino com farinha, rapadura etc.”, trouxe uma máquina fotográfica, com a qual produzia retratos na rua; depois, vendia os monóculos nas casas dos retratados. Ele se orgulha de ter fotografado metade do bairro, de onde nunca mais saiu. Os monóculos ficaram para trás, mas ainda bem que ele continua por lá e que descobriu sua verdadeira vocação: servir aos famintos comida boa e farta.

Onde e Quando?

Praça Dr. Waldir da Mota, Olaria

Quarta-feira a Domingo:
18:30 – 00:00

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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Pão com linguiça da Adelaide

Pão com linguiça da Adelaide

Rio de Janeiro

As mãos de Maria Adelaide Reis fazem a tradição resistir ao tempo. A história de uma aldeia inteira do Norte de Portugal está agarrada à massa que ela produz e vende, aos sábados, na festa portuguesa do Cantinho das Concertinas. O folar português, um pão caseiro recheado de linguiça calabresa, presunto e bacon, é típico de Trás-os-Montes. Adelaide aprendeu a receita em Ferrugende, onde nasceu. “Quando era criança, a gente ganhava das madrinhas este pão na Páscoa e o padre da aldeia passava de casa em casa para comer um pedaço acompanhado de um cálice de vinho do Porto. Mas hoje essa tradição está quase perdida”, lamenta esta portuguesa de 56 anos que chegou ao Brasil em 1971.Em Copacabana, fazia o pão em casa para matar as saudades de casa, mas o cheiro saído do forno invadia os outros apartamentos. “As pessoas não resistiam e começaram a me pedir sob encomenda”, conta. Há sete anos, passou a montar uma barraca na festa portuguesa do Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara, o CADEG. Em meio às concertinas, vende folares e broas de milho assadas no seu sítio em Saquarema, onde vive há 22 anos. “Em casa, temos horta, criamos coelhos, carneiros e faço presunto uma vez por ano”.

Fotos: Marcos Pinto/ Texto: Ines Garçoni

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